segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D

Hoje, 31 de outubro, comemora-se o aniversário de Drummond. À guisa de homenagem, sua poesia.





Qualquer Tempo



Qualquer tempo é tempo.

A hora mesma da morte

é hora de nascer.



Nenhum tempo é tempo

bastante para a ciência

de ver, rever.



Tempo, contratempo

anulam-se, mas o sonho

resta, de viver.



Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Novos desafios

Penso que o governo FHC teve o mérito de aproveitar a conjuntura internacional favorável (aumento da liquidez internacional e oposição fragilizada) e de não repetir a receita do congelamento para debelar a inflação. Também promoveu mudanças institucionais importantes, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em compensação, nos prendeu a uma cilada de aumento de tributos (cujo problema maior é a má distribuição do ônus e não a carga tributária em si) e juros escorchantes para o financiamento das contas públicas; cilada a que estamos presos até hoje, em que pese a estratégia da presidente Dilma em mudar essa sina com diminuições sistemáticas da selic.
O governo Lula teve o mérito de não cair no blá-blá-blá neoliberal (FHC propunha superar o modelo varguista pelo modelo orientado ao mercado... leia-se: a reboque da globalização financeira sob as rédeas das bolsas e especulações sem regulação) e investir fortemente em políticas sociais. Também foi mérito de Lula não ceder à ALCA, na época entendida como inescapável (lembram-se?), e desenvolver a presença soberana do Brasil no mundo. Tomou uma economia estabilizada e a transformou em uma economia pujante com redistribuição de renda (eis algo que os críticos anti-petistas não entendem: aqui não se vê indignados não porque somos "passivos", mas porque encontramos a saída não neoliberal que norte-americanos e europeus procuram... que o digam os governos latino-americanos que se espelham no Brasil e usam Lula como referência eleitoral).
Porém, superada a inflação, colocados nos trilhos do desenvolvimento com redistribuição de renda, precisamos virar a página e enfrentar com mais firmeza novos desafios: superar definitivamente a péssima qualidade da saúde e da educação, passando pelo combate ferrenho do desperdício de dinheiro público, especialmente com corrupção. O modelo de coalizões amplas, demasiado amplas, que vigeram durante os anos FHC e Lula precisa mudar. Outra base de governabilidade há de ser possível, e Dilma, acredito, está a buscá-la.
Por João Quirino