quinta-feira, 31 de março de 2011

Ah, é Pernambuco!


Santa Cruz 1x0 São Paulo
Quem esperava uma apresentação de gala do São Paulo, após o jogo histórico de domingo, contra o Corinthians, foi surpreendido pela força pernambucana que tomou o Mundão do Arruda, em Recife. Apesar da superioridade técnica dos jogadores são-paulinos, o ex-lateral do time paulista e hoje técnico do Santa Cruz, Zé Teodoro, foi brilhante na armação do seu escrete.
O Santa, que vem muito bem no campeonato estadual, simplesmente não deixou o Tricolor atacar. Lucas, quiçá pela primeira vez depois de ser taxado como grande “promessa” do futebol brasileiro, sofreu marcação à altura de seu novo status. Everton Sena foi um carrapato em Lucas durante os 90 minutos de jogo (fora os acréscimos). Ótima leitura de Zé Teodoro, que, ao perceber o relevante papel de Lucas no ataque são-paulino, anulando-o, prejudicando sobremaneira as investidas do adversário. O trabalho defensivo foi completado por uma zaga compacta, um verdadeiro muro contra o qual Dagoberto e Fernandinho pelejaram para transpor, em vão.
Rivaldo, que foi vaiado e aplaudido pela torcida do seu ex-clube, apesar de não ter jogado mal, também não foi decisivo. Carpegiani – mesmo depois de ter um jogador a mais, após expulsão de Leandro Souza – não abdicou da formação com três zagueiros e dois volantes.
Do lado do Santa, destaque para o meia-atacante Gilberto. Habilidoso e criativo, Gilberto importunou a zaga tricolor várias vezes, dando bons passes ou investindo ele próprio contra o gol de Rogério Ceni.
O Santa Cruz foi superior e mereceu o resultado. Apesar do gol da vitória ter sido contra, oriundo de uma infelicidade de Rodrigo Souto que, ao tentar jogar a bola para escanteio, empurrou-a para as próprias redes.
Na partida de volta, o time pernambucano pega o São Paulo podendo empatar ou até perder por um gol de diferença, desde que também marque. Outra tarefa duríssima para a equipe do Morumbi.
Na partida de ontem, destaque também para a torcida do Santa Cruz, que incentivou o time do começo ao fim. Pulando e gritando “ah, é Pernambuco!”, a torcida foi um espetáculo à parte. Fez uma merecida festa pela atuação do Santa, enfim, em boa fase, após longo período de declínio.
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Cruzeiro e Inter bem na Libertadores
Pela Libertadores, Cruzeiro e Internacional asseguraram a liderança – no caso do time mineiro, também a classificação antecipada para a segunda fase – dos respectivos grupos.
O Inter bateu o boliviano Jorge Wilstermann, no Beira Rio, por 3 a 0. Já o Cruzeiro, passou pelo paraguaio Guaraní, por 2 a 0, em Assunção.
Por João Quirino

Contos da Meia Noite

"Balaio"

Texto de Marçal Aquino
Interpretação de Matheus Nachtergaele

quarta-feira, 30 de março de 2011

Tradição, família e promiscuidade

Poucos dias após o deputado Júlio Campos (DEM-MT) ter sido “mal interpretado” ao se referir ao Ministro do STF Joaquim Barbosa como “moreno escuro”, também o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) parece ter erroneamente passado por racista. Afinal, alegou o parlamentar, “minha esposa é afro-descendente e meu sogro é negão”. Ah, bom!

Em participação no programa CQC, o polêmico (no caso, eufemismo para truculento) deputado “progressista” respondeu a perguntas de populares. Perguntado sobre suas referências políticas, respondeu: Médici, Geisel, Figueiredo. Arguido sobre o que faria se pegasse o filho fumando maconha, tascou: “daria uma porrada”. Indagado sobre sua reação diante de uma hipotética homossexualidade do filho, disse que não corre esse risco, pois o filho teve boa educação, com pai presente. Também afirmou que desfiles gays são “promoção de maus costumes”. E o gran finale: questionado por Preta Gil sobre o que faria se seu filho se apaixonasse por uma garota negra, Bolsonaro respondeu: “Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.

Sinceramente, acredito nas desculpas de Sua Excelência. Em uma sequência de perguntas sobre gays, pode muito bem ter sido traído por uma pergunta sobre relações raciais. Enfim, ajustando as contas, Bolsonaro não teria se revelado racista, mas, sim, homofóbico. Ah, bom!

Não é novidade que Jair Bolsonaro conquistou a condição de mais bem acabada expressão do reacionarismo nacional. É o nosso Jean-Marie Le Pen e o nosso Tea Party. No entanto, além das conclusões mais óbvias, a fala de Bolsonaro, especialmente por responder a Preta Gil, fez com que me ocorresse a seguinte dúvida: qual o verdadeiro propósito que mobilizou o golpe de 1964 e qual a natureza das forças que sustentaram o regime militar?

Tenho uma hipótese: o que mais afrontava o conservadorismo radicalizado da época – com participação expressiva nas Forças Armadas e na Igreja Católica, muito embora as duas instituições também tivessem, ainda que em número menor, expoentes à esquerda – não era só o perigo do comunismo, mas o perigo da revolução cultural e comportamental que aflorara com tudo nos anos 1960. A emergência do sexo livre, o combate das mulheres às amarras machistas ou os gays mostrando-se orgulhosamente à revelia da repressão moralista, tudo isso embutido no furacão de sexo, drogas e rock’n roll, causava verdadeiro pânico nos tradicionalistas.

A principal manifestação de apoio aos militares, logo após o golpe, chamou-se Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada em 02/04/64, no Rio de Janeiro. Não apenas os regimes político e econômico estavam em jogo, mas a família e Deus. Ou seja, a estrutura familiar e social, tal qual concebida tradicionalmente, sob a benção da Santa Madre Igreja, devia ser preservada. Pode-se imaginar o medo desse pessoal de ver o Brasil invadido por gays, mulheres desonradas e toda a sorte de “promiscuidade”. Tanto quanto ou maior que o medo de ver o país sob o comando de comunistas. A propósito, seriam farinha do mesmo saco: o “promíscuo” seria o equivalente comportamental do inimigo político, o “subversivo”.

Em seu livro “Verdade Tropical”, Caetano Veloso relembra o exílio imposto a ele e a Gilberto Gil, o pai de Preta. Em determinado momento, mostra-se surpreso pelo fato deles, artistas do movimento tropicalista, terem sido vítimas do regime. Logo os tropicalistas, sobre os quais pairavam críticas, vindas da própria esquerda, de concessões à cultura de massas, de serem alienados, despolitizados etc. Caetano interpreta que, de certa forma, esses “transviados” da Tropicália seriam mais perigosos ao status quo do que artistas ditos engajados.

Ao acusar Preta Gil e o ambiente familiar em que foi educada, Bolsonaro demonstra, tardiamente – anacronicamente, talvez seja o termo mais apropriado –, quem são os inimigos das viúvas da ditadura e demais reacionários. Na falta de comunistas, nesta época pós-muro de Berlin, o impulso raivoso volta-se a quem quer que desafie o mundinho ordeiro, santificado, estruturado sobre os alicerces da moral e dos bons costumes. Bolsonaro age como um defensor desse mundo e de seus valores. Assim como, para ele, devem fazer os verdadeiros patriotas, estejam eles nos quartéis, nos claustros ou quaisquer outros lugares imunes às investidas da “promiscuidade”.

Por mais respeito que se deva à opinião e à sua livre expressão em uma sociedade democrática, a própria defesa da democracia e do Estado de Direito impõe certas cautelas. A primeiríssima delas é o respeito irrestrito aos ditames da nossa Constituição, a mesma que Bolsonaro um dia jurou. Ditames como a defesa dos direitos humanos (art. 1º, III; art. 4º, II; art. 5º, III), o que não se coaduna com a apologia da tortura. Ou da construção de uma sociedade sem preconceitos (art. 3º, IV), o que não se concilia com o racismo, a homofobia ou qualquer forma de discriminação.

A se considerar o Brasil de hoje como um Estado democrático de Direito, a defesa do que prescreve nossa Constituição é o mínimo que se espera de todos os cidadãos brasileiros, especialmente daqueles democraticamente eleitos para exercer um cargo político. Inclusive Jair Bolsonaro, um viúvo apaixonado da ditadura, ironicamente eleito pelo voto popular.

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Em tempo: tão ou mais ofensivo que as palavras de Jair Bolsonaro no programa CQC é o desenho colocado na porta do seu gabinete. Em uma alusão aos desaparecidos do Araguaia, a figura sugere que são cachorros os que procuram por ossadas naquela região do país. Imagino o quanto essa “brincadeira” não fere as pessoas que há anos buscam os corpos de familiares, provavelmente assassinados por “patriotas” como o nobre deputado.

Por João Quirino

terça-feira, 29 de março de 2011

Morre José Alencar



Há pouco foi dada a notícia da morte do ex-presidente da República José Alencar. O ex-vice presidente enfrentou um câncer por 13 anos.

Alencar começou a trabalhar cedo, aos 14 anos, como vendedor de tecidos. Fundou a Coteminas, empresa que veio a se tornar um dos maiores conglomerados têxteis do país. Fez-se empresário bem sucedido, angariando grande fortuna.

Demonstrando vocação para a política, foi presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais por 15 anos, além de comandar a Associação Comercial de Minas e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte.

Candidatou-se ao governo de Minas em 1994, ficando em terceiro lugar. Em 98, elegeu-se senador. O grande salto na política veio em 2002, quando compôs a chapa presidencial com Lula. A presença de José Alencar como vice tinha a missão de amenizar o receio do empresariado nacional em relação a Lula. Era a junção do grande líder operário com o grande empresário. O capital e o trabalho, enfim, unidos pelo desenvolvimento do Brasil.

A mensagem foi bem recebida. Eleito, Alencar portou-se digna e mineiramente no cargo de vice-presidente. Soube assumir seu papel de coadjuvante, mas sem deixar de dar seus recados e de mostrar seu peso. Tornou-se um contumaz crítico da política de juros do próprio governo. Em 2004, assumiu o cargo de Ministro da Defesa, ajudando a enfrentar a crise do setor aéreo. Foi um alicerce, jamais um estorvo a Lula, merecendo parte dos créditos pelas conquistas do governo.

Entretanto, não foi somente como empresário ou como político que José Alencar tornou-se figura simpática aos brasileiros, passando a ser respeitado em todo o país. Alencar ganhou a admiração nacional, sobretudo, pela luta que travou bravamente pela própria vida. Em 1997, passou por cirurgia para a retirada de tumores no rim e no estômago. De lá até o dia de hoje, disputou inúmeros embates com a doença, vencendo todos. Muitas e muitas vezes vinha a notícia, acompanhada Brasil afora, de que o vice-presidente, depois o ex-vice presidente, estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Em geral, a notícia vinha com o destaque de que o estado do paciente inspirava cuidados especiais ou, mesmo, que era grave. A cada vez que Alencar saia do hospital, as pessoas sentenciavam: “como é forte esse homem!”

A própria presidente Dilma, em seu discurso de posse, enalteceu a força, a vontade de viver deste bravo mineiro. A propósito, a própria Dilma, também mineira, passara pela angústia de um tratamento para combater um câncer no sistema linfático.

Hoje, enfim, acabou-se a luta de José Alencar. Mesmo morto, porém, não deixa de levar o respeito dos brasileiros e das brasileiras que aprenderam a admirar sua força e seu jeito mineiro – calmo, paciente – de enfrentar, por tanto tempo, o maior de todos os adversários: a morte.

Por João Quirino

Cem gols. Sem tabus


É claro que houve planos táticos, desenhos de jogadas ofensivas e defensivas bem ou mal executadas, de lado a lado. Mas o jogo entre São Paulo e Corinthians - que fez jus ao apelido de Majestoso –, disputado e Barueri, foi marcado mesmo pela emoção. Não foi uma partida para se analisar, para se ver com imparcialidade, mas para torcer. O embate teve espírito de batalha, de disputa aguerrida, muito mais do que disciplina tática. Apesar de não gostar do termo, os jogadores foram muito mais “guerreiros” em busca da gloriosa vitória de seu brasão do que “peças” supostamente posicionadas e movimentadas pelos técnicos-professores.
Além de tudo, foi uma partida histórica. Tanto pela queda do tabu – ou, se me permitem o neologismo tosco, o “retabu”, já que se tratava de uma reversão de tabu, primeiro favorável ao Tricolor, depois, ao Timão – como pela espetacular marca de 100 gols alcançada pelo, por que não dizer, lendário Rogério Ceni.

O São Paulo dominou a partida durante o primeiro tempo. Teve mais ímpeto, buscou seus objetivos, apesar de também ter sofrido boas investidas mosqueteiras. Dagoberto movimentou-se muito, criando opções no ataque. Fernandinho, em tarde inspirada, promoveu suas velozes arrancadas pela esquerda. Ah, quando a essa dupla juntarem-se Lucas e Luís Fabiano! Do lado corinthiano, Dentinho era o mais perigoso, apesar de mostrar, desde o começo, que o ímpeto por revidar a marcação implacável o trairia a qualquer momento.

Os jogadores não se avexaram em arriscar chutes de longe. Na sua segunda tentativa, Dagoberto, inexplicavelmente desmarcado, acertou um tirombaço no canto esquerdo de Júlio César. São Paulo, 1 a 0. O jogo que estava relativamente equilibrado passou a pender para o lado são-paulino. E o grande ídolo da história do clube, Rogério Ceni, começou a brilhar. No final do primeiro tempo, mostrou um reflexo incrível ao defender bola desviada na área por Jorge Henrique.

Iniciado o segundo tempo, empurrado pela torcida que dominava a Arena Barueri, o São Paulo chegou logo ao segundo, ou, dependendo do ponto de vista, ao centésimo. Fernandinho fintou Ralf, que tirou o pé para evitar a falta na entrada da área. Em seguida, o atacante tricolor repetiu a finta em Alessandro, que caiu na armadilha: falta, na medida para o gol histórico de Ceni. Qual o milésimo de Pelé ou o de Romário, ambos de pênalti, o lance de bola parada permitiu às câmeras que se posicionassem para registrar a história do melhor ângulo. E assim se fez: bola no ângulo esquerdo (direito do goleiro Júlio César), o alvo preferido de Rogério. São Paulo, 2 a 0 e merecidíssima parada para a festa dos 100 gols. Com direito a tirar a camisa e ao consequente cartão amarelo ao goleiro-artilheiro-lenda, sem qualquer reclamação.

Como se não bastasse, logo em seguida, Dagoberto partiu pela esquerda e tomou uma dura entrada de Alessandro. Cartão vermelho direito – e merecido – e pinta de goleada tricolor. Não obstante, como clássico é clássico e este tinha algo de mágico, eis que o próprio Dagoberto também foi expulso – e também com méritos – e Dentinho diminui o placar, também com um tirombaço de fora da área: 2 a 1, com pinta de reviravolta corinthiana.

Mas, como que para provar que o dia era mesmo tricolor, o mesmo Dentinho, estupidamente, revidou uma entrada de Rodrigo Souto com um chute (de leve) em lugar para lá de sensível nos homens, se é que me entendem. Dentinho foi expulso e o Corinthians se viu mais uma vez com um a menos em campo.
Mas a inferioridade numérica não impediu que o Timão insistisse até o último minuto. E, destaque-se, a segunda etapa foi até os 51 minutos, muito bem acrescidos pelo bom árbitro Guilherme Ceretta de Lima, em irrepreensível atuação, que sopesou muito bem as expulsões, as substituições e a cera são-paulina. No finalzinho, quase o Corinthians manteve o tabu com um golaço de bicicleta do até então apagado Liedson, defendida magistralmente pelo encantado Rogério Ceni.

Final da história: São Paulo 2x1 Corinthians. No dia do centésimo gol do maior goleiro-artilheiro da história do futebol, o centenário Timão ainda viu cair por terra a invencibilidade que sustentava há quase quatro anos.

Por João Quirino

segunda-feira, 28 de março de 2011

Rapidez, conforto, comodidade. E paciência!

Aproveito a data da inauguração da Estação Butantã, da linha amarela do Metrô – aquela linha que, por enquanto, é mais para inglês ver do que para uso cotidiano da população – para fazer uma reclamação. Pego metrô todos os dias na estação Sé, por volta das 18h30. Com certa frequência sou obrigado a enfrentar uma multidão para entrar no vagão. Isso aconteceu hoje. A plataforma de embarque parece um formigueiro; nos vagões, as pessoas se tornam sardinhas enlatadas. Esse é o horário de pico, diz o auto-falante; melhor ter paciência. E haja paciência! Mas economize: você pode precisar de mais paciência amanhã ou depois de amanhã.

Com todas as ponderações, não dá para deixar de criticar a incompetência do Metrô por não tomar duas medidas simples: 1) deveriam informar as pessoas que a plataforma está lotada antes de passarem pela catraca, dando-lhes a opção de pegar um ônibus, um táxi ou ir a pé, sem ter que enfrentar a “muvuca”; 2) deveriam impedir o acesso dos espertalhões que ficam na plataforma de desembarque a fim de embarcar, no contrafluxo, sem passar pelo tumulto a que a maioria esmagadora – literalmente – é obrigada a enfrentar.

Além de diminuir o preço exorbitante do transporte público de São Paulo, seria mais do que razoável que os governos municipal e estadual procurassem, mesmo com medidas simples, melhorar um pouco o serviço. Para o usuário (cidadão?) seria mais útil do que assistir a – e pagar por – propagandas que ficam papagaiando slogans como “rapidez, conforto e comodidade”.  Paciência!

Por João Quirino

sexta-feira, 25 de março de 2011

Samba nota 100

Se 2010 marcou os 100 anos de Cartola, Noel Rosa e Adoniram Barbosa, neste ano comemora-se o centenário de outro mega-bamba: Nelson Cavaquinho.
Poucos produziram sambas com tamanha genialidade como eles. As melodias e letras rebuscadas, geralmente tendo a nostalgia e o romantismo como panos de fundo, são marcas dos mangueirenses Cartola e Nelson. Já Noel e Adoniram, constituíram com suas obras, repletas de humor, a melhor crônica da malandragem e das mazelas carioca e paulistana.
Abaixo, trecho do programa Mosaico, da TV Cultura, em homenagem a Nelson Cavaquinho.


Por João Quirino

Até prova em contrário, só o São Paulo tem o que comemorar


Luís Fabiano chega ao São Paulo na próxima terça. De acordo com a Folha de S.Paulo de hoje, para a mesma data – certamente com a intenção de obscurecer a chegada do Fabuloso –, o presidente do Corinthians pretende anunciar a contratação de Adriano.
Sinceramente, não sei se o anúncio no Parque São Jorge causará aborrecimento ou contentamento no Morumbi. Se Luís Fabiano, apesar de ora contundido, tem tudo para formar uma linha de ataque infernal no Tricolor, juntamente com Fernandinho, Dagoberto e o jovem talentoso Lucas, Adriano deve causar problemas para a escalação do ataque corinthiano. Afinal, quem ficará no banco: Dentinho, Jorge Henrique ou Liedson? O problema do Corinthians, diga-se de passagem, não é o ataque – que melhorou depois da chegada do “levezinho” Liedson –, mas a articulação no meio-campo e, sobretudo, as laterais.
Isso para não falar dos fatores extra-campo, que, como sabem muito bem a Internazionale, o Flamengo e a Roma, Adriano é especialista em produzir um verdadeiro império de problemas.
Por João Quirino

quinta-feira, 24 de março de 2011

O triplo sonho dominical do Tricolor

Mesmo com a derrota são-paulina para o Paulista de Jundiaí (3x2) e com a vitória corinthiana sobre o Oeste de Itápolis (3x0), ontem, a expectativa do tricolor paulista deve ser maior que a do alvinegro para o clássico que travarão no próximo domingo, em Barueri. Explica-se: no próximo Majestoso, como é chamada a peleja entre São Paulo e Corinthians, o time do Morumbi sonha em obter três conquistas marcantes, ao mesmo tempo. Se o São Paulo vencer, acabará com um incômodo tabu que terá durado, aproximadamente, três anos e meio ou 11 jogos sem vencer o arquirrival (7 vitórias corinthianas e 4 empates).
De quebra, o São Paulo tirará o Corinthians da liderança e, caso o Palmeiras não vença o Bragantino, no próximo sábado, retornará à ponta do Paulistão. Por fim, se Rogério Ceni marcar um gol, será o centésimo de sua carreira, número para lá de simbólico em se tratando de um goleiro. Aliás, Ceni já é o goleiro com mais gols na história do futebol, seguido pelo paraguaio Chilavert, já aposentado, que conta “apenas” 62 gols no currículo. Vale lembrar que a FIFA reconhece 97 gols do goleiro são-paulino, deixando de somar dois deles, marcados em amistosos.
Sobre o tabu atual, o interessante é que o Timão reverteu a “freguesia”, isto é, a sina de resultados favoráveis sobre o rival, já que de março de 2003 a outubro de 2007 foi ele, Corinthians, que não conseguiu vencer o Tricolor (13 jogos, com 8 derrotas e 5 empates). Detalhe: o empate de 1 a 1 em partida pelo Brasileirão, ocorrida em 14/07/2007, é considerada tanto por são-paulinos como por corinthianos como pertencente ao “seu” tabu. Isto porque tal partida está justamente entre a última vitória do São Paulo (3 a 1, em 11/02/2007) e a primeira vitória do Corinthians (1 a 0, em 14/10/2007, com o famoso gol de Betão). Portanto, são-paulinos e corinthianos podem colocá-la na “sua” sequência de partidas em que permaneceu invicto diante do outro (ver quadro abaixo).
Uma curiosidade: a “reversão de tabus” parece uma tradição do mosqueteiro, que passou 11 anos sem vencer o Santos e, em seguida, ficou 7 sem derrotas para o time da Vila Belmiro. Outra curiosidade: a última vez que o Corinthians venceu o São Paulo antes do tabu pró-Tricolor foi no dia 22/03/2003, na final do Paulistão desse ano, quando, assim como hoje, Ceni defendia o gol do time do Morumbi e Liedson era o principal atacante do Timão.


Por João Quirino

quarta-feira, 23 de março de 2011

Prêmio Jabuti vai premiar apenas os primeiros

Após o imbróglio do ano passado, quando o livro “Leite Derramado” (Cia. das Letras), de Chico Buarque, foi o 2º colocado na categoria melhor romance – vencida por Edney Silvestre, com “Se Eu Fechar os Olhos Agora” (Record) – e venceu o grande prêmio de ficção, a Câmara Brasileira do Livro anunciou mudanças no Prêmio Jabuti.

A partir de agora, apenas os primeiros colocados em cada categoria concorrerão ao grande prêmio de ficção e ao grande prêmio de não-ficção.

Mais simples. E muito mais lógico.

Por João Quirino

Morre Elizabeth Taylor


Morreu hoje, aos 79 anos, a atriz Elizabeth Taylor.

A atriz estava internada no centro médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, desde o início de fevereiro, com problemas no coração.

Taylor foi diagnosticada em 2004 com Insuficiência Cardíaca Congestiva, uma patologia que impede o coração de bombear sangue oxigenado suficiente para suprir as necessidades dos demais órgãos do corpo, o que gera uma sensação de fadiga, dificuldade de respirar, aumento de peso, entre outros problemas.

terça-feira, 22 de março de 2011

Roberto Carlos é alvo de racismo na Rússia


Roberto Carlos, ex-Corinthians, foi alvo de manifestação racista na Rússia. Na derrota de seu time, o Anzhi Makhachkala, para o Zenit São Petersburgo, por 2 a 0, um torcedor chegou a oferecer banana ao lateral brasileiro (foto).
A torcida do Zenit é conhecida pelas manifestações racistas. Seus dirigentes, inclusive, evitam a contratação de jogadores negros para evitar problemas com seus torcedores. O clube já foi ameaçada pela UEFA e pela federação russa de ser eliminada de competições, o que acabou não acontecendo.
Além de Roberto Carlos, também jogam no Anzhi o ex-corinthiano Jucilei e o ex-atleticano Diego Tardelli.

Ganhamos nota 10


Um americano de Houston, muito simpático e com extrema facilidade em falar português, estudou comigo na faculdade. Participamos de um mesmo grupo, em curso de ciência política, para apresentação de um seminário. O ano era 1995, salvo engano. Não me lembro exatamente do assunto do seminário, mas me recordo da empolgação do americano, que ficara incumbido de finalizar a apresentação. O gran finale, elaborado pelo próprio, seria um receituário de como o Brasil consolidaria sua incipiente democracia, elevando-a ao mais alto patamar. Tornar-se uma democracia como a (suspense!) democracia americana.
Lá pelas tantas, um outro colega do grupo se revoltou contra o que considerava arrogância ianque (não usou esses termos, mas tenho certeza que a expressão lhe veio à mente). Nada que abalasse a convicção e a disposição áulica do estudante texano em nos ensinar como ser democrata.
Claro que a democracia na América – para remeter à clássica obra de Tocqueville – é exemplar e paradigmática. Mas é interessante como muitos norte-americanos se veem como os promotores da democracia e da liberdade no mundo, como se, na sua ausência, o planeta todo estivesse condenado à tirania e à servidão. Estou certo que jamais passou pela cabeça do meu amigo de Houston que os EUA estiveram e continuam a estar ao lado de diversas ditaduras mundo afora, inclusive daquela ditadura militar que se impôs no Brasil entre 1964 e 85.
Sob o lema da democracia e da liberdade, Bush pai invadiu o Panamá para retirar do poder um incômodo presidente e Bush filho tomou o Iraque de Saddam com base no (sabidamente) falso argumento de existência de armas de destruição em massa. A propósito, o então presidente russo Vladimir Putin, instado pelo mesmo Bush filho a desenvolver a democracia na Rússia, respondeu, irônico: qual democracia, aquela que os EUA implantaram no Iraque?
Há dias, Obama, mantendo a tradição, exaltou o Brasil como um exemplo de democracia, um horizonte a ser seguido pelos países árabes, ora em revolta contra suas autocracias. Que bom! Nós, brasileiros, podemos nos sentir gratificados. Como o garotinho que recebeu nota 10 do professor.
Por João Quirino

Boquinha, eu quero uma pra viver

Na década de 1980, Cazuza cantava: “ideologia, eu quero uma pra viver”. Naquela época fazia sentido. A guerra fria agonizava, mas ainda estava lá. Com ela, as oposições entre capitalismo e socialismo, conservadorismo e progressismo, esquerda e direita. Sem clivagens, sem nuances, tudo bem maniqueísta, pão, pão, queijo, queijo.
Acabou-se a guerra fria, veio a redemocratização, a estabilidade econômica, o crescimento, a ascensão da classe C e do Brasil no mundo. Ao longo desse percurso, consolidou-se a tese de que a governabilidade e as reformas de Estado (leia-se: reformas constitucionais) impunham amplas coalizões eleitorais e de governo. E pau nas ideologias! A começar pela união improvável entre PSDB e PFL, que começou conjuntural e se tornou umbilical. Com o PT, vieram as alianças não menos improváveis, mas – assim o dizem – necessárias, com certa massa fisiológica que embute de tudo um pouco: do PC do B ao PP de Maluf, de Sarney e Collor a comunistas históricos. É claro que houve deserções ao longo da conformação de PSDB e PT como protagonistas do novo bipartidarismo. Também, pudera: o primeiro, social-democrata no nome, tornou-se liberal-conservador, enquanto o outro, socialista no papel, fez-se social-democrata na prática. De mais a mais, afora uma discussão ou outra sobre mais Estado aqui ou menos Estado acolá, quanto ao “resto”, estamos todos mais ou menos de acordo.
Mas a tal tese da coalizão ampla fez escola também nas “bases”, a tal massa fisiológica. Todos querem ser governo. Especialmente porque os governos estão em alta. E governo bem sucedido tende a fazer sucessor. Que o digam FHC com sua bandeira da estabilidade econômica e Lula com a do crescimento inclusivo.
Se Cazuza cantava a ideologia, hoje, quase todos os partidos tendem a cantar: “boquinha, eu quero uma pra viver”. O prefeito paulistano Gilberto Kassab acaba de fundar o PSD (ah, quem te viu, quem te vê, PSD!), que, talvez, será futuramente incorporado pelo PSB. Sim, como o ex-presidente da FIESP Paulo Skaf, Kassab também quer ser “socialista”. E se Erundina estiver incomodada (ah, o apego a essa bobagem do passado chamada ideologia), que se mude. Da mesma forma que Marina Silva, pedra no sapato de Jorge Luiz de França Penna, presidente do PV paulista, na sua tentativa de ser governo com Alckmin e, ao mesmo tempo, com Dilma. Eis o lema predominante: se há governo, estou dentro! Afinal, para que servem os partidos, senão para abocanhar um carguinho, uma verbinha?! Abaixo as ideologias! Abaixo a oposição!
Entretanto, talvez seja o momento dos chefes de executivo ponderarem: qual o custo de tão ampla coalizão? Até quando haverá boquinha para agradar tanta gente? E, principalmente: neste momento, as teses da governabilidade e das reformas ainda são válidas?   
Por João Quirino

segunda-feira, 21 de março de 2011

“Basco” 2x0 “Botafugo”, e outros jogos

No dia em que Obama discursou no Teatro Municipal do Rio, citando a partida Vasco x Botafogo – nas palavras do presidente americano, “Basco” e “Botafugo” –, após ter ganho uma camisa do Flamengo de Patrícia Amorim, o futebol brasileiro não lhe prestou a devida homenagem. A não ser pelo citado clássico alvinegro carioca, que teve, sim, emoções e gols (destaque para a atuação do goleiro botafoguense Jefferson e para o golaço do vascaíno Eder Luís), os grandes do Rio e de São Paulo judiaram da bola.  
O Flamengo não passou do 0 a 0 contra o fraco Cabofriense, resultado ruim, mesmo se considerarmos as ausências de Thiago Neves e Ronaldinho Gaúcho. O Palmeiras também não conseguiu passar pelo não menos fraco São Caetano: 1 a 1. Mesmo o Corinthians e o São Paulo, que venceram por 1 golzinho seus “poderosos” adversários – respectivamente, o Americana e o Grêmio Prudente –, ficaram longe de um desempenho digno do esporte bretão.
Que seja apenas uma nhaca trazida por Obama. Que a leve consigo para o Chile e além.
Por João Quirino

sábado, 19 de março de 2011

Obama está podendo?



Obama e Dilma, hoje, em Brasília.

Barack Obama foi eleito presidente dos EUA após polêmica (para não dizer malfadada) gestão de George W.Bush. O primeiro presidente negro ou, como querem alguns de seus compatriotas, o primeiro presidente afro-americano da história, assumiu sob forte expectativa positiva e aos coros de “sim, nós podemos”. De longe, um slogan mais simpático do que “é a economia, estúpido”, mote de campanha do colega democrata Bill Clinton.

A propósito, passada mais da metade do mandato, vem a pergunta: nós podemos o quê, hein? Fazer um governo menos arrogante que o de Bush filho? Sim, claro, ainda bem. Mas o slogan sugere mais ousadia. Podemos ir além, podemos o impensável, podemos o impossível. Podemos fortalecer a hegemonia (ou estancar o declínio) americano no globo sem apelar às guerras e ações militares invasivas e ilegítimas (preventivas?). Podemos promover reformas sociais à esquerda (entenda-se, esquerda para padrões americanos). Podemos resgatar a pujança da economia do Tio Sam e, a reboque, a economia mundial, competindo com a superemergente China.

De fato, Obama ousou em algumas de suas atitudes, conquistou algumas vitórias, mas também mostrou certo abuso na marquetagem (um dos males das sociedades modernas) e alguns sinais de hesitação.

O presidente cuida de sua imagem a todo instante. É hábil nisso. Não descuida da pose em frente ao púlpito, na Casa Branca, quando faz ameaças veladas ou dá indiretas, ora a Ahmadinejad, ora a Kaddafi ou a quem mais a opinião pública tome como o capeta na Terra. Ou quando profere discursos na Alemanha, no Egito ou onde mais sua equipe de marketing acredite que ajudará na construção do seu perfil de “líder mundial”.

Só que além da fina estampa, da elegância e do charme, há também conteúdo político. Obama tentou promover conquistas marcantes, algumas vezes com sucesso. Agendou a retirada das tropas do Iraque – no Afeganistão, a coisa é mais complicada. Prometeu fechar a prisão de Guantânamo, o que, pelas últimas notícias, deu para trás. Promoveu a histórica reforma do sistema de saúde e colocou na agenda a reforma do sistema financeiro. Enfrenta relativamente bem a crise econômica (em que pesem os efeitos negativos da guerra cambial para nós, emergentes). Tentou resgatar relações com países árabes, abaladas pelo antecessor. Propôs a recolocação da hegemonia americana sob o “paradigma Sputinik”, uma concorrência, especialmente com a China, baseada em inovações tecnológicas constantes – algo bem mais alvissareiro que o paradigma do choque de civilizações e a decorrente estratégia da “guerra ao terror”.

Obama até recebeu um Prêmio Nobel da Paz, muito mais pelas expectativas criadas em torno de seu governo do que propriamente por realizações efetivas. No discurso, para desagrado de muitos, chamou a atenção de que a paz muitas vezes exige a guerra. Talvez fosse uma forma de dizer: sim, sou da paz, mas não se esqueçam que sou o presidente de um país chamado Estados Unidos da América, historicamente consolidado e fortalecido com fundamento nas armas e nas guerras.

Nesses anos de gestão, o atual presidente americano enfrentou/enfrenta dois momentos históricos cruciais: a crise econômica de 2008/9 e a onda contra regimes autocratas no norte da África e no Oriente Médio. São históricos porque podem determinar, finalmente, como a nova ordem mundial irá se estruturar no pós-Guerra Fria e após a frustrada tentativa de Bush em impor uma lógica neoimperialista a partir do medo contra o terrorismo (para alguns, sinônimo de muçulmanos). No entanto, o titubeio de Obama não deixa claro se poderá, de fato, constituir uma opção à proposta dos neocons. Especialmente porque a alternativa, qualquer que seja, passa pela dura admissão de que os EUA, doravante, não podem mais ser o único condutor do mundo, a partir de seus exclusivos interesses. Caso o admita, Obama, sim, ainda poderá avançar muito em mudanças relevantes. Se bobear, os neocons, falcões, Tea Party e Cia. (no sentido de companhia) poderão, por sua vez, dizer: sim, podemos retomar as rédeas da América.

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Em tempo: atualizando observação feita no post abaixo, foi anunciado que Obama não mais fará o discurso para americano ver na Cinelândia, no Rio, amanhã. O discurso será no Teatro Municipal, para uma platéia seleta. Particularmente, achei bom. Tratando-se de teatro, melhor mesmo que o discurso ocorra no Municipal.

Por João Quirino

quinta-feira, 17 de março de 2011

Vão-se os cinemas de rua, vai-se uma época

A poucos dias da visita de Obama ao Rio de Janeiro, em compasso de espera pelo discurso a ser feito na Cinelândia, a cidade de São Paulo vê mais um de seus cinemas de rua, o Belas Artes, enfim, fechar as portas. Se a Cinelândia carioca tem esse nome porque no passado, diferentemente de hoje, abrigava várias salas de exibição, a mesma sina parece se impor à região da Avenida Paulista.
Quando vim para Sampa, no longínquo ano de 1991, fiquei orgulhoso por saber que ao longo dos quase três quilômetros de sua principal avenida havia mais cinemas que em Porto Alegre inteira. Desde então, tornei-me habitué de alguns deles. O Belas Artes, o Gemini, o do Conjunto Nacional, que já teve vários nomes – Bombril, Livraria Cultura, não sei mais o quê –, assim como o da Gazeta, hoje Reserva Cultural. Além deles, claro, têm os dos shoppings: os do Pátio Paulista, na ponta do Paraíso, e o Bristol, no Center 3, na ponta da Consolação. Para ficar só na famosa avenida, sem falar dos cinemas da rua Augusta e outros.
Há pouco tempo fechou o Gemini – pela enésima vez – e hoje, o Belas Artes. Ocorre no “centro novo” o mesmo já observado no “centro velho” de São Paulo. Os locais onde antes eram exibidas as preciosidades da sétima arte, agora se destinam ao consumo de bugigangas e aos cultos religiosos. Não dá para negar certo desconforto nostálgico, uma sensação ruim, ao constatar que hábitos caros a muitos da minha geração não mais serão possíveis. Além da frustração por um processo econômico e social que, apesar dos protestos, não é simples de ser contido, muito menos revertido. Aliás, será que deve ser contido e revertido? Há culpados, inimigos a serem combatidos?
A lembrança foi longe e retornei à minha terra natal, Birigui, onde eu ia às matinês do Cine Pérola todos os domingos, rigorosamente. Lembrei-me das filas imensas, virando a esquina, quando passava filme do Mazzaropi. Lembrei-me até de quando assisti “Os Trapalhões no Planeta dos Macacos”, minha primeiríssima ida a uma sala de cinema, morrendo de medo por achar que gorilas sairiam de trás da tela para nos atacar. Mas, terrível mesmo foi ver o prédio que abrigava o Cine Pérola ir abaixo para dar lugar ao estacionamento de um banco. Também me lembrei da luta inglória de alguns cidadãos biriguienses para tombar o prédio que abrigou o primeiro cinema da cidade, o qual não conheci, e que hoje é uma loja de motos.
Pior do que testemunhar a extinção dos cinemas de rua é perceber que não mais haverá um espaço de cultura, entretenimento e sociabilidade criado em seu redor. Acaba-se a caminhada tranqüila pela Avenida Paulista, batendo papo com a namorada ou com amigos, com destino a um boteco próximo para comentários e críticas, ao sabor de cerveja e petisco, sobre o filme que se acabara de assistir. Assim acontece no Rio, em Sampa e até em Birigui.
Os shoppings centers, com seu universo consumista, sua seletividade em prol de “gente bonita” e seus Cinemarks da vida, serão nossa única opção.  
Por João Quirino

Perepepê do Bê

Pena, poder, pelota, película e pandeiro: paixões.

Paixão pela literatura, pela política, pelo futebol, pelo cinema e pelo samba.

Tudo misturado e bem brasileiro.

Eis a receita do Perepepê do Bê.