domingo, 18 de dezembro de 2011

O novo Telê


Logo que chegou ao Japão, Muricy Ramalho concedeu entrevista dizendo que Guardiola era um grande técnico, mas, para prová-lo de verdade, precisaria comandar um time brasileiro. Depois do jogo de hoje – ou mesmo antes –, alguém poderia dizer: Guardiola bem que poderia treinar a seleção brasileira.
Vale lembrar que Muricy só não é o técnico da nossa seleção porque, ainda no Fluminense, ouviu a recusa do presidente do tricolor carioca em liberá-lo. Há poucos dias, renovou seu contrato no Peixe com cláusula que lhe permite a saída em caso de novo convite por parte da CBF.
Ainda que não me empolgue com o trabalho mostrado por Mano Menezes, não me iludo com sua eventual substituição por Muricy. Nem por Luxemburgo, nem por Felipão ou qualquer outro treinador brasileiro. Gostaria, confesso, que o técnico do Barça ou alguém que assuma sua filosofia de jogo tomasse em mãos o Brasil até 2014. Aliás, por ironia, Guardiola é o maior herdeiro do estilo jogo das equipes de Telê Santana. Mais ainda que o próprio Muricy, que iniciou sua carreira com o mestre, no São Paulo.
Outra ironia: o futebol-arte, que Zico disse ser o maior derrotado no estádio de Sarriá, naquela fatídica tarde de 14 de junho de 1982, pela Itália de Paolo Rossi, parece estar renascendo na mesma cidade de Barcelona.  
Se há a tristeza pela derrota do Santos, também há um quê de esperança pelo resgate do melhor do nosso futebol brasileiro. Ainda que nasça em terras catalãs sob a batuta de Pep Guardiola, o novo Telê.
Por João Quirino

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Meu ídolo

Quando vejo um garoto de sete anos com brilho nos olhos ao se deparar com o craque Neymar, sou capaz de entendê-lo perfeitamente. Com sete anos eu também tinha um ídolo que entortava os adversários, muito embora não fosse tão rápido.
Os meninos de sete anos da época de Leônidas deviam se orgulhar da jogada que ele criara e operava como ninguém: a bicicleta. Não me lembro de nenhuma bicicleta dada por meu ídolo. Assim como não me lembro de ninguém usar o calcanhar com tamanha habilidade e visão de jogo como ele.
Compreendo os guris de Minas que aos sete anos idolatravam o atleticano Reinaldo e o cruzeirense Tostão. Como aquele, meu ídolo marcava gols e comemorava com o braço esticado para cima e o punho cerrado. Como este, também era doutor e vestia a oito.
Vi crianças de sete anos idolatrando Ronaldo e venerando Romário. Logo surgiram as comparações. Quem era melhor? Quando eu tinha sete anos, meu ídolo era comparado a Zico. Acho até que este era melhor, mas o bom é que estavam juntos na seleção de Telê, a melhor de todas para mim. E, como meu ídolo, Zico também sabia alegrar o povão, brilhando em um clube de massas. Multidões que se entristeceram quando o Galinho saiu do Flamengo, assim como eu e outros tantos milhões lamentamos a despedida do nosso ídolo rumo a campos italianos. Logo a Itália, quanta injustiça!
A propósito, consigo até enxergar os pequenos holandeses de 74 e os garotos húngaros de 54, inconformados por não verem Cruyff e Puskas campeões do mundo. Desde criança, não admito que meu ídolo, capitão do mágico escrete de 82, tenha deixado de levantar o caneco.
Nos anos 90, seu irmão Raí foi idolatrado por pequenos são-paulinos. Também começara em Ribeirão, também jogava de modo elegante. Tinha um físico bem mais atlético, é verdade. E – coisa de família? – também se revelou um cidadão genuíno, participativo, politizado a ponto de apresentar suas demandas, de expor suas opiniões, de buscar um Brasil melhor. Muito embora tivesse o perfil de bom-moço, e não o de intelectual boêmio, como o do meu ídolo. Ainda que não tivesse ajudado a construir uma inusitada democracia em tempos de ditadura.
Meu ídolo tinha nome de filósofo e fama de inteligente, ao contrário do ingênuo e folclórico Garrincha. Mas, como Mané, era PhD da bola. Penso que os meninos com sete anos em 62 jamais aceitariam que a bebida, e não os zagueiros, seria capaz de derrubar seu ídolo. Eu, pelo menos, não consigo aceitar.
Dizem que Pelé não torcia para o Santos aos sete anos. Meu ídolo, sim. Justamente por causa de Pelé. Mas também virou a casaca ao se ver representante eterno de uma torcida, a do Corinthians, o meu time... o nosso time! Imagino meu ídolo aos sete anos, absorto com a maestria do melhor de todos os jogadores, sua competência em ditar o ritmo e a lógica da partida. Volto aos meus sete anos, quando ficava embasbacado ao notar que meu ídolo, a seu modo, também era capaz de majestosas proezas, ainda que não se lhe outorgassem a coroa de um rei.

Ontem foi um dia, ao mesmo tempo, feliz e triste. Ontem, nosso time foi campeão e meu ídolo morreu. Lembrei-me da primeira vez que comemorei um título do nosso time. Meu ídolo jogou, foi o principal responsável pela conquista. E eu tinha sete anos.
* Escrito em 05/12/2011.
Por João Quirino

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Morre Toniquinho Batuqueiro, o sotaque caipira do samba de SP


Morreu nesta quarta-feira (23) Antonio Messias de Campos, o Toniquinho Batuqueiro. Natural de Piracicaba, Batuqueiro foi enterrado nesta quinta-feira às 10h30 no Cemitério Santo Antônio, em Osasco. Ele estava com 82 anos. A morte foi confirmada pelo produtor musical Renato Dias, que trabalhou com o sambista no disco "Memória do Samba Paulista de Toniquinho Batuqueiro", de 2009.
Batuqueiro é um dos protagonistas da evolução da história do samba de São Paulo contribuiu para a formação de diversas escolas. Pelo menos três sambas enredos de sua autoria foram para a avenida no Grupo Especial do Carnaval paulistano. Dois pela Vila Maria e um pela Rosas de Ouro. O primeiro em 1972 pela Rosas, "Brasil de ontem, Brasil de hoje”. Ele passou pela Vila Maria, Império do Cambuci, Rosas de Ouro e Unidos do Peruche, agremiação que participou da fundação.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Titebilidade

Alunos fumam maconha no campus. Polícia mobiliza um batalhão inteiro, lança bombas de gás lacrimogênio e o escambau  para dar um “teje preso” nos maconheiros. Alunos formam uma horda pretensamente revolucionária para defender os companheiros, sobem nas viaturas, invadem o prédio da administração e escondem o rosto com camiseta, lembrando cena de rebelião de presídio. Mais uma vez. Um deles, mais empolgado, queima a bandeira do Brasil. Mas a polícia só quer o império da lei; o cacete é inevitável, alegam. Sim, estão preparados para lidar com a situação. Preparadíssimos! Da mesma forma que na retirada dos camelôs da feirinha da madrugada. Quem manda ser ilegal e, sem direito ao contraditório, posar de comerciante de produtos piratas e roubados?
Ex-presidente descobre estar doente. Na internet, pululam mensagens de apoio juntamente a destemperos e manifestações desumanas (inconfessáveis, não fosse o anonimato) pró-tumor, não pró-pessoa. “Devia ser internado pelo SUS!”; se é contra o Lula (até câncer?), é legal. Na TV, repórter é agredida por grupelho que, pela enésima vez (sempre com surpresa e violência), atrapalha o link ao vivo. Alguns acham legal; tudo que ferra a Globo é legal. Além do mais, humor agora é assim, punk, à moda Rafinha. Para outros: “cadê a polícia que não prende esses caras?”. Ah, tá na USP, tá no Bráz... Só não está na proteção da juíza, assassinada. Ou na dos gays que andam pela Paulista. Ou na do deputado carioca, forçado a se exilar, em pleno século XXI, para que não seja morto também. Por bandido ou, quem sabe, pela própria polícia.
E tomem gritos, xingamentos, acusações, bravatas. De um lado: “Tudo vândalo, terrorista, esquerdista de merda, revolucionários de meia pataca, lixo da história, corruptos todos: PT, PC do B, Venezuela, diretório acadêmico, presidenta (faxineira é o catso!), ex-presidente metalúrgico vagabundo!”. A resposta: “Elite de merda, direita de bosta, exploradores dos pobres, parasitas do dinheiro público, indignemo-nos contra todos esses corruptos: PSDB, DEM, EUA, reitor, banqueiros, mídia, governador mauricinho, ex-presidente neoliberal entreguista (virou maconheiro também?)!”.
Quer saber, concordo com o Tite. “Está faltando namorar!”. Eis o melhor remédio para os dias que correm. Levar o jogo da vida com mais titebilidade, mas sempre em busca da vitória. Falta pensar nas coisas com mais moderação, menos fígado. Para torcer apaixonadamente, serve o Timão.
Por João Quirino

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D

Hoje, 31 de outubro, comemora-se o aniversário de Drummond. À guisa de homenagem, sua poesia.





Qualquer Tempo



Qualquer tempo é tempo.

A hora mesma da morte

é hora de nascer.



Nenhum tempo é tempo

bastante para a ciência

de ver, rever.



Tempo, contratempo

anulam-se, mas o sonho

resta, de viver.



Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Novos desafios

Penso que o governo FHC teve o mérito de aproveitar a conjuntura internacional favorável (aumento da liquidez internacional e oposição fragilizada) e de não repetir a receita do congelamento para debelar a inflação. Também promoveu mudanças institucionais importantes, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em compensação, nos prendeu a uma cilada de aumento de tributos (cujo problema maior é a má distribuição do ônus e não a carga tributária em si) e juros escorchantes para o financiamento das contas públicas; cilada a que estamos presos até hoje, em que pese a estratégia da presidente Dilma em mudar essa sina com diminuições sistemáticas da selic.
O governo Lula teve o mérito de não cair no blá-blá-blá neoliberal (FHC propunha superar o modelo varguista pelo modelo orientado ao mercado... leia-se: a reboque da globalização financeira sob as rédeas das bolsas e especulações sem regulação) e investir fortemente em políticas sociais. Também foi mérito de Lula não ceder à ALCA, na época entendida como inescapável (lembram-se?), e desenvolver a presença soberana do Brasil no mundo. Tomou uma economia estabilizada e a transformou em uma economia pujante com redistribuição de renda (eis algo que os críticos anti-petistas não entendem: aqui não se vê indignados não porque somos "passivos", mas porque encontramos a saída não neoliberal que norte-americanos e europeus procuram... que o digam os governos latino-americanos que se espelham no Brasil e usam Lula como referência eleitoral).
Porém, superada a inflação, colocados nos trilhos do desenvolvimento com redistribuição de renda, precisamos virar a página e enfrentar com mais firmeza novos desafios: superar definitivamente a péssima qualidade da saúde e da educação, passando pelo combate ferrenho do desperdício de dinheiro público, especialmente com corrupção. O modelo de coalizões amplas, demasiado amplas, que vigeram durante os anos FHC e Lula precisa mudar. Outra base de governabilidade há de ser possível, e Dilma, acredito, está a buscá-la.
Por João Quirino

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A conquista de um sonho

 
Acredito que poucos se deram conta das vitórias conquistadas pelo Corinthians no seu Centenário. A primeira delas, e talvez a mais importante porque abriu caminho para as que se seguiram, foi a reestruturação da diretoria do clube. O Corinthians, semelhante a grande maioria dos clubes brasileiros, nunca havia conseguido emplacar uma administração profissional de seu futebol. A história do alvinegro paulista foi marcada por diretorias amadoras, escândalos, declarações acaloradas, negócios realizados por pura emoção ou que não beneficiavam em nada o clube.

No entanto, após umas das piores crises, que levou o clube ao inferno da segunda divisão, surgiu no Corinthians uma nova administração muito mais próxima ao modelo profissional que todos desejam. A marca Corinthians foi reconhecida como uma das mais importantes do país, gerando uma série de ações de marketing muito bem sucedidas, auferindo muitos recursos ao clube, além do reconhecimento internacional. O time passou por um grande período mantendo a base e o treinador, comportamento que permitiu o retorno a primeira divisão do futebol nacional, lhe rendeu títulos tanto regional quanto nacional e o colocou novamente na disputa do mais desejado título para os corinthianos, o da Copa Libertadores.

A Libertadores não foi conquistada, ainda, porém algo mais importante, e que parece passar desapercebido, sim. A construção de seu estádio, sonho mais antigo do que a conquista da América, foi garantida hoje. E mais, este estádio tão desejado e tão importante para seu crescimento e afirmação do clube como o mais importante do país, será nada mais nada menos do que a abertura da Copa do Mundo de 2014! Esta conquista, articulada no ano do Centenário, é muito mais importante do que a Libertadores, porque elevará o clube a um novo estágio e proporcionará muitos títulos, inclusive o da Libertadores.
 
Por Rafael Soares

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Tragédia argentina



Das dores que sofre um homem na vida, são particularmente intensas aquelas causadas pelo time do coração. Quem não sofreu uma derrota daquelas em que a gente passa dias e dias sem se conformar? O que dizer, então, de uma desclassificação. Ou da derrota em final de campeonato!

Porém, dessas dores ludopédicas, nada se compara à de um rebaixamento. Falo com propriedade, já que a sofri há poucos anos. Em 2007, para ser mais preciso, quando “meu” Corinthians passou pelo vexame do descenso no certame nacional. Assisti a toda aquela fatídica partida contra o Grêmio sentado no chão da sala, com a televisão sem volume. Na verdade, não assistia ao jogo, mas rezava. Ou, talvez, observava aquela movimentação de jogadores como quem vê um moribundo na cama, à beira da morte, implorando para que o quadro crítico seja revertido. Em vão...

Quando o árbitro apita o final da partida, também encerra a esperança e abala profundamente o orgulho atrelado àquela camisa e àquele escudo. Emerge ali uma sensação amarga de incredulidade, de impotência, de indignidade, de vergonha e, ao mesmo tempo, de raiva. Os gritos e xingamentos durante a partida dão lugar às lágrimas e, depois, à revolta. Não são incomuns as reações violentas como as observadas no Couto Pereira, em Curitiba, em 2009, ou como as que acometeram Buenos Aires, domingo passado, após a queda do tradicionalíssimo River Plate, equipe da preferência de 18 milhões de argentinos e dono de 33 canecos nacionais, 2 Libertadores e um mundial interclubes.

Apesar das aparências, em que pese a frieza do juízo gerado pelas imagens incontestes, toda aquela revolta quiçá não se deva a simples vândalos, como vociferam os racionais comentaristas de ocasião, mas a seres humanos, demasiado humanos. Afinal, futebol, acima de tudo, é paixão; para os argentinos, em especial, alguns níveis acima do padrão médio de passionalidade, é mais uma fonte de tragédia!

Óbvio, não justifico a violência e os atos de vandalismo. Sim, têm que ser punidos os responsáveis, doa a quem doer, sem a desculpa de que agiram sob “forte emoção”. Por outro lado, não deixo de tentar entender o fenômeno: o futebol não é mero jogo, mas paixão; não se trata de um confronto de “peças” movidas sob a lógica de planos táticos, mas de homens que representam uma camisa e uma história, inspiradoras de orgulho em milhões de fiéis apaixonados.

Aos hermanos torcedores do grande clube de Nuñez, vai aqui uma dica de quem já sofreu essa experiência e sua peculiar dor: ao fim e ao cabo, sejam otimistas. Sim, até porque há razões para sê-lo. Nada melhor que o dia seguinte e a busca por sair do fundo do poço para que se reavive o brio e o amor ao time. O orgulho ferido é uma grande força para que se façam revoluções. E o rebaixamento é uma clara evidência de que certa revolução clubística é necessária. Prova disso é que, via de regra, os clubes que passaram por semelhante vexame, lotaram seus estádios no decorrer na campanha na segundona, viram seus torcedores renovarem seu amor ao escudo – aliás, não há momento mais apropriado para que o torcedor queira mostrar sua paixão pelo clube do que na luta pela volta à primeira divisão –, e conseguiram o ascenso logo em seguida. Que o digam, além do Timão, outros grandes brasileiros como o Atlético Mineiro, o Coritiba, o Grêmio, o Palmeiras, o Botafogo, o Bahia, o Fluminense.

Se isso ocorre na terra de Garrincha e Pelé, também deve acontecer no país de Messi e Maradona.

Por João Quirino

domingo, 26 de junho de 2011

Dois meninos


O ano: 1950. O menino brincava enquanto o pai ouvia o rádio com máxima atenção. O pai, jogador de futebol profissional, dissera ao garoto que aquela era a mais importante partida da história do país. Uma final de Copa do Mundo disputada no Brasil, em que a seleção nacional, com seu glorioso uniforme branco, disputaria, favorita, a taça contra a celeste uruguaia. O menino, vendo a seriedade no semblante do pai, compreendia, na sua forma de criança, o quão relevante era aquele jogo de bola para os adultos; para seu pai, em especial. Apesar de continuar brincando, não deixava de atentar para as reações e humores do velho por um segundo sequer. Assim, sorriu quando o pai comemorou o gol da seleção, ficou apreensivo quando ocorreu o empate e arrasado quando um tal de Ghiggia marcou o tento da virada. Só não chorou como o pai, que foi às lágrimas quando o jogo acabou e o Brasil, apesar do favoritismo, de ter Zizinho e de jogar em casa, perdeu um Mundial que todos davam como ganho. Com um sorriso envergonhado, o menino se aproximou do pai e disse, amoroso:

- Não liga não, pai. Quando eu crescer, ganho um desse pro senhor.

Quando o Uruguai bateu o Brasil naquela final de Copa, o tal menino tinha apenas nove anos de idade. Oito anos depois, aos dezessete, participou da campanha brasileira na Suécia, quando nossa seleção, jogando ora de amarelo, ora de azul, conquistou seu primeiro título mundial. A partir de então, o Brasil tornou-se o maior vencedor de mundiais e o status de país do futebol; o tal menino tornou-se o rei desse esporte. E o Santos, o time que o revelou, até hoje é conhecido como o mais completo e vencedor clube enquanto Pelé desfilou seu imenso talento pelos gramados do país e do mundo:

O ano: 2003. O mesmo Santos, pela primeira vez após a despedida do seu maior astro, disputava uma final de Libertadores. Com o rei, conquistara dois títulos; o primeiro contra o Boca Juniors, da Argentina, e o segundo, contra o Peñarol, do Uruguai. Mas isso ocorrera há quase quarenta anos. Desta vez, o adversário era novamente o Boca, o mesmo da primeira conquista. Outros meninos brilhantes haviam surgido na Vila famosa, a confiança era total. Não obstante, os argentinos tinham vencido o primeiro jogo, lá, por dois a zero. Nada que não pudesse ser revertido na finalíssima, em casa. Entre tantos torcedores, um homem assistia à partida pela televisão, enquanto o filho de onze anos brincava ao lado. Sim, brincava, mas não deixava de observar a peleja, nem de reparar nas reações e humores do pai. Quando a partida acabou, percebeu que a derrota por três a um para os argentinos, com Robinho e tudo, arrancara, além de alguns xingamentos, uma lágrima do pai. E, docemente, tentou consolá-lo:

- Não liga não, pai. Quando eu crescer, ganho um desse pro senhor.

O pai sorriu, apesar da dor da derrota. Notara a semelhança com a história do outro menino. Só não podia imaginar que o consolo do filho não era mera coincidência, mas o destino novamente escrito pela boca e pelo talento de outro menino, o seu Junior. Oito anos depois, o Santos disputa novamente uma final de Libertadores, contra o Peñarol – sim, o mesmo do segundo título da América –, e ergue a taça pela terceira vez. Melhor: pela primeira, após a despedida do seu menino-rei dos gramados. Agora, o Junior é o novo menino-rei.

Eis as histórias de dois meninos que reverteram a história. Que, de certa forma, nos redimiram. De uma final melancólica, de derrota, reescreveram outra, vitoriosa, campeã. A história do menino Pelé ocorreu de verdade. Já a do menino Neymar... bem, nada há que prove a existência dos fatos relatados, pelo menos até a vitória contra os uruguaios, absolutamente verdadeira. E é isso o que importa: é verdade que esses meninos cresceram, viraram reis e trouxeram – e continuam trazendo –, com seu talento inigualável de tratar a bola, tantas alegrias e taças. E também é verdade que esses meninos nasceram e nascerão de tempos em tempos neste país. Meninos de favelas, de campinhos de várzea, de escolinhas. Meninos da Vila. Meninos do Brasil.

Por João Quirino

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Time equilibrado

Muricy, após fase problemática nos últimos jogos à frente do Fluminense, assumiu o Santos mostrando toda sua competência. Conquistou o título paulista e avançou às semifinais da Libertadores, após despachar, ontem, o bem montado Once Caldas.

O principal elogio que se ouve em relação a Muricy é que o time do Santos está mais equilibrado. Em outras palavras, a equipe da Vila, que já tinha um ataque competente, passou também a ter uma defesa menos vulnerável. Considerando os números, após a vinda de Muricy, caiu a média de gols marcados e despencou a de gols sofridos. Exagerando, o Santos deixou de ser uma equipe que vence de 10 a 9, para se tornar uma equipe que vence de meio a zero. O resultado é o mesmo: vitória. Aliás, o Santos de 2010 faturou o Paulista e a Copa do Brasil, enquanto o Santos de 2011 já conquistou o mesmo Paulista e está bem encaminhado na Libertadores. Segue a sina de campeão.

Questiono, apenas, esse conceito de “equilíbrio”. Equilíbrio supõe uma equipe competente não apenas no ataque, mas também na defesa e no meio, na direita e na esquerda, jogando sem a bola e com a bola, etc. Todavia, como um economista keynesiano, no caso, analisando os assuntos da bola, aponto: há vários equilíbrios possíveis, não apenas o que corresponde a uma organização tática que priorize a segurança da defesa. Pode haver, inclusive, uma equipe que busca seu equilíbrio na ofensividade ostensiva. Como o próprio Santos, inclusive, em 2010. Em suma, para mim, o Santos não é um time mais equilibrado com Muricy, mas um time cujo equilíbrio se fundamenta na defesa mais bem composta, ainda que isso piore sua força de ataque. Marca registrada do São Paulo tricampeão brasileiro (2006/08), sob o comando do mesmo Muricy. Trata-se, portanto, de um outro equilíbrio, a partir de uma opção do treinador, mas também capaz de fazer do Peixe um time campeão. Muito embora, como se viu ontem, no Pacaembu, as vitórias, agora, sejam acompanhadas de um pouco mais de sufoco.

Ainda sobre equilíbrios, vejamos o exemplo do, quiçá, melhor escrete do planeta no momento: o badalado Barcelona. Sabe-se que o Barça prima por ter a posse da bola, mantendo-a nos pés de seus jogadores por mais de 60% da partida, em média. Para isso, o time joga compactado, no campo do adversário, o que implica que seus atacantes marquem as saídas do rival, bem como que seus defensores iniciem a articulação das jogadas, e troquem passes à exaustão, sem errar. Para isso, é imperativo que todos os onze jogadores sejam qualificados tecnicamente; eis um equilíbrio tático que não suporta pernas de pau! Aliás, acredito que para “desequilibrar” o Barça seja necessário impedi-lo de manter tamanha posse de bola; para fazê-lo, talvez seja o caso de não marcar Messi individualmente, mas, para começar, de marcar muito bem Piqué e Puyol.

Por João Quirino

terça-feira, 17 de maio de 2011

O certo e o errado

Acabo de assistir, no Bom Dia Brasil, da Globo, matéria sobre livro didático do MEC que está causando polêmica. Segundo a autora do livro, não há que se falar em “certo” ou “errado” no uso da língua, mas em adequação ou inadequação. Assim, o “errado” pode ser adequado, dependendo da circunstância. Discursando contra o livro surgiram Alexandre Garcia e o professor Sérgio Nogueira; a favor, ninguém. Não sei quanto ao “certo” e o “errado” no uso da língua, mas no jornalismo, aprendi que é certo a parte contrária também ter o direito de se pronunciar.

Por João Quirino

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A funcionalidade do chute no vácuo

Jogasse nos tempos de hoje, Garrincha não seria considerado um artista, mas um expoente da falta de fair play, a ética futebolística segundo a cartilha civilizatória dos campos do Velho Continente e dos velhos cartolas da FIFA. Os joões, por sua vez, seriam o supra-sumo dos operadores da bola, carregadores de piano incapazes de tocá-lo com maestria.

Passada a patrulha sobre Neymar, recaem as acusações dos idólatras do futebol Dunga – ou, se quiserem algo mais “moderno”, do futebol Felipe Melo – sobre o “mago” Valdívia. Na falta dos pênaltis com paradinha ou dos rebolados de Edmundo, o principal exemplo de falta de fair play agora é o “chute no vácuo”. A finta, executada de sobejo pelo chileno do Palmeiras, caracteriza-se por fazer que se vai chutar a bola, chutando o vento. O joão, ou seja, o adversário a marcar Valdívia, é induzido a sair do lugar para interceptar uma bola que permanecerá inerte. Passa por bobo, é certo, mas cumpre a função essencial de vítima, necessária ao futebol arte. Exatamente igual ao adversário de Mané Garrincha quando este ameaçava correr, deixando a bola parada.

A principal acusação que recai sobre o “chute no vácuo” é que não seria objetivo, servindo tão-somente para desdenhar, humilhar, esculachar, enfim, o pobrezinho do companheiro de profissão (oh, dó!). Não obstante, mesmo se considerássemos que tudo no jogo de bola é ou deva ser objetivo, a acusação, ainda assim, é injusta. Tratando-se de objetividade, o lance de Valdívia satisfaz, pelo que contei, três funções claras e próprias do futebol.

A primeira função é tática: como em outra finta ou drible, Valdívia desvencilha-se do marcardor, ganha espaços para avançar, dar assistência a um companheiro ou mesmo chutar a gol. Mexe uma peça adversária e faz com que as peças palmeirenses abram vantagem na distribuição dos espaços no gramado.

A segunda função é psicológica: retomando – pela enésima vez – a tese do doutor Sócrates, segundo a qual o futebol é sobretudo um jogo psicológico, não comportando peças, consoante a perspectiva anterior, mas homens e suas emoções, o “chute no vácuo” faz com que o marcador, em particular, e todo o escrete adversário, em geral, perca a cabeça. Saindo do eixo, desequilibrando-se emocionalmente, é claro que a equipe de Valdívia tenderá a envolver o adversário que, ademais, tenderá a apelar para a violência e ficar com jogador(es) a menos em campo (que o diga Anderson, do Santo André).

A terceira e última função é estética: com respeito aos carregadores de piano, mas se não houvesse quem tocasse o instrumento com a primazia de um craque, o futebol seria tão empolgante quanto o rugby e Domingos, da Portuguesa, deporia Pelé do trono, assumindo ele a condição de rei.

Pelo exposto, salve o chute no vácuo, as dancinhas, os chapéus, os elásticos, os carretéis (viram o lance de Leandro Damião na partida entre Internacional e Juventude?!) e toda a sorte de demonstrações do talento ludopédico.

Termino com um pedido aos apologistas da ética do talento como inimigo do fair play: deixem o “chute no vácuo” em paz ou, se quiserem, passem a aplaudi-lo como fazem os que realmente amam o bom futebol. Sob pena de, não o fazendo, tornarem o futebol atual, já tão diminuto de grandes talentos, num verdadeiro “chute no saco”.

Por João Quirino

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"O Fator Deus", por José Saramago

No ano em que os atentados de 11 de setembro completam 10 anos, achei oportuno, para reflexão, colocar no blog texto de José Saramago, escrito na época.

Infelizmente, talvez esse texto se revele bastante atual, no momento em que o nome de Deus é pronunciado em matanças no mundo árabe, em que, sob a Sua benção, pastor da Flórida incita a queima do Corão e funcionários da ONU são assassinados no Afeganistão, em que deputado exalta a própria homofobia, taxando gays como avessos à família e a Ele, em que psicótico, à moda norte-americana, mata crianças em uma escola no Rio, pactuando previamente o Seu perdão...

O mundo - as religiões, em particular - precisa rever seriamente o que compreende por Deus e como influencia os seus fiéis, procurando evitar as barbaridades cometidas em nome Dele.  

Por João Quirino


***

O fator Deus

JOSÉ SARAMAGO

 
Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes.

Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um
negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo.

Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.

As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mas limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, deveríamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator Deus", esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o "fator Deus" em que o deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.

Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 19/09/2001.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Nem tão dramático assim

Quem esperava uma partida dramática para o São Paulo, ontem – confesso que eu esperava –, frustrou-se com o 2 a 0 imposto ao Santa Cruz, na Arena Barueri. Ou, em se tratando dos são-paulinos, sentiu-se aliviado com a relativa tranqüilidade com que a equipe comandada por Carpegiani obteve sua classificação para as quartas de final da Copa do Brasil. Não que tenha sido fácil, mas foi uma classificação, no mínimo, sem grandes sustos.

Sem a ajuda da entusiasmada torcida pernambucana, que empurrou a equipe na semana passada, e sem a ousadia necessária para buscar o gol adversário, o Santa Cruz não ofereceu grande resistência. O São Paulo, bem superior tecnicamente, impôs-se desde o princípio e não foi importunado por contra-ataques na maior parte do jogo.
Zé Teodoro usou a mesma estratégia de marcar Lucas na base do homem a homem. Só que, desta vez, Evandro Sena não teve a mesma eficiência da partida anterior. O jovem craque buscou desvencilhar-se, conseguindo por algumas vezes. A marcação cerrada, porém, acabou por provocar um desentendimento mais forte entre os jogadores, o que culminou na expulsão dos dois. O vermelho, na minha modesta opinião, foi exagerado.

No mais, o árbitro Gutemberg de Paula Fonseca, em que pese a propensão aos chiliques e manifestações exageradas de autoridade, conduziu bem a partida. Pelo menos, não há que se atribuir a ele o placar e a classificação são-paulina.

Quem errou feio foi André Oliveira, zagueiro do Santa Cruz, que cometeu pênalti absolutamente desnecessário em Dagoberto – a bola já estava nas mãos do goleiro. A atitude de Oliveira foi decisiva, não por provocar o segundo gol são-paulino, já que Rogério Ceni perdeu a penalidade, em inusitada tentativa de cavadinha, mas por deixar a equipe pernambucana com um jogador a menos. Com isso, induziu o time de Zé Teodoro a uma estratégia defensiva, buscando a decisão por pênaltis quando um golzinho praticamente resolveria a parada a favor do Santa.

Contundido, Fernandinho deu lugar a Marlos, que imprimiu boa movimentação no meio-campo. A substituição mais produtiva, porém, aconteceu no segundo tempo. Ilsinho entrou no lugar de Casemiro e passou a criar várias oportunidades pelo lado direito. Aos 27, ele próprio marcou o gol da classificação.

Dada a opção defensiva e sem conseguir executar contra-ataques eficientes – Landu e Gilberto não se encontraram na partida – a manutenção do placar foi fácil para o São Paulo. Ainda mais depois que o Santa perdeu mais um jogador, Renatinho, expulso.

O Goiás será o adversário do Tricolor paulista nas quartas de final da Copa do Brasil

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Os confrontos das oitavas de final da Copa do Brasil

Flamengo x Horizonte-CE
Grêmio Prudente x Ceará
Caxias x Coritiba
Vasco x Náutico
Atlético-PR x Bahia
Palmeiras x Santo André
Botafogo x Avaí
São Paulo x Goiás

Por João Quirino

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Globo e o futebol brasileiro

Uma vergonha! Ultimamente a organização do futebol brasileiro tem me trazido grandes decepções. Primeiro uma elitização do futebol, ancorada no preconceituoso argumento do combate à violência nos estádios e implementada através da elevação dos preços dos ingressos e da "madrugadização" dos jogos.
Agora vem a fragmentação dos clubes através da destruição de sua entidade, gerando uma submissão completa e por contrato aos interesses da Globo. Não que o Clube dos 13 seja um exemplo de organização e de lutas em pró da união dos times e em defesa do torcedor, mas era uma forma de organização que poderia fornecer maior força frente a outros atores. Acredito que os times irão pagar caro pela visão imediatista e completamente  individual de seus dirigentes e por se afastarem de sua torcida.
Aliás, torcida que precisa se organizar não apenas para torcer, mas para defender sua importância e exigir respeito.

Por Rafael Soares

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pessoa na novela

Cena da novela "O Clone" (2002), em que Osmar Prado declama "Poema em linha recta", de Fernando Pessoa.

Racismo, não! Homofobia, pode?

Há poucos dias, o lateral Roberto Carlos, em partida do seu time, o Anzhi Makhachkala, contra o Zenit, ambos da Rússia, foi alvo de manifestação racista ao entrar em campo. Um torcedor aproximou-se para lhe entregar uma banana. Na partida entre Brasil e Escócia, uma banana foi jogada no gramado, causando enorme mal-estar por, num primeiro momento, suspeitar-se tratar de ato racista contra Neymar.

Os dois episódios, pela associação com o racismo, causaram asco na maioria das pessoas. “Como pode acontecer algo assim em pleno século XXI?”, indagam jornalistas, jogadores, torcedores e cidadãos em geral.

No entanto, a mesma repulsa não ocorre em relação à homofobia. Como se esta forma de preconceito não tivesse alcançado, digamos, o status de atitude moralmente reprovável ou mesmo criminosa que já alcançaram o machismo e o racismo, por exemplo.

Prova disso foi a manifestação da torcida do Cruzeiro, em partida pelas semifinais da Superliga de vôlei masculino, contra o jogador Michael dos Santos, do Vôlei Futuro, de Araçatuba (ver matéria: http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2011/04/volei-futuro-reclama-de-homofobia-e-tumulto-em-minas-cruzeiro-rebate.html ).


É bom que se diga: a repulsa causada pelo racismo e a quase normalidade com que se dá a homofobia não é um estranho contraste na cabeça de poucos, mas cultivado pela maioria das pessoas na nossa sociedade. Por um lado, há que se comemorar o fato de negros, apesar dos pesares, terem avançado nas suas conquistas. Reforço: apesar dos pesares, ou seja, apesar de estarmos muito longe de considerar superado o problema do racismo no Brasil. Por outro lado, é premente que sejam tomadas atitudes enérgicas para que atos de hostilidade contra homossexuais deixem de ser entendidos como fruto de um “preconceito aceitável” ou, pior, como reação legítima de resguardo da família, dos bons costumes ou qualquer valor tradicional concebido de modo bitolado, fechado, cujos defensores mais radicais se veem como guardiães da palavra de Deus, da Moral ou o do que os valha.

Por falar nisso, o deputado Jair Bolsonaro, ontem, no programa CQC, da Band, confirmou que fora mal interpretado na entrevista de semana passada. Tentando externar toda sua raiva contra os homossexuais, foi, coitado, tomado por racista. Quanta injustiça! A propósito, parabéns a Marcelo Tas, que, expondo a si próprio e à filha, que é gay, deu verdadeira prova de coragem ao tornar público seu orgulho por ela. Quem sabe, um dia esse orgulho possa superar o ódio e incapacidade de convivência ainda vistos em campos, quadras, parlamentos e alhures. Chegou a hora de dar uma banana a todas as formas de preconceito, inclusive a homofobia.

Por João Quirino

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Favorito, sim!

Santos 0x1 Palmeiras


No início do Paulistão, o Palmeiras era, talvez, o representante dos quatro grandes no qual a maioria dos comentaristas esportivos menos botava fé. Apesar do comando de Felipão, o Verdão era – e continua sendo – o grande com elenco mais limitado tecnicamente. Ainda mais se considerarmos que Valdívia, a grande contratação do clube, passa por longo período afastado dos gramados por lesão. Bem como o eterno ídolo Marcos.

A rigor, o Palmeiras tem um grande jogador – Kleber, o gladiador – e um veterano, digamos, que impõe respeito – Marcos Assunção. No mais, trata-se de um elenco de jogadores regulares. Porém, pelo que vêm mostrando no campeonato, esses mesmos jogadores compensam a menor qualidade técnica com rigorosa disciplina tática. Quiçá, dos grandes, o aquele com padrão de jogo mais bem definido. O que faz desse time, com todos os méritos, o líder do campeonato e tão favorito ao título quantos os demais grandes.

Na partida de ontem, em que, ironicamente, o Peixe mostrou dificuldades em jogar embaixo d’água, o escrete de Felipão soube impor sua vigorosa marcação sobre Elano, Ganso, Neymar e companhia. Aliás, afora Neymar, que mostrou bastante empenho – mas longe do brilho costumeiro –, as demais estrelas santistas estiveram irreconhecíveis. Principalmente Ganso, que errou passes curtos e teve a bola roubada algumas vezes. No entanto, a má atuação do time da Vila não desvaloriza em nada a eficiência – ou o equilíbrio, termo da moda – demonstrada pelo Palmeiras. Pelo contrário, foi o Palmeiras que soube se impor e determinar seu ritmo ao adversário.

Cicinho foi implacável na marcação de Neymar. Rivaldo mostrou a aplicação de sempre, marcando e arriscando perigosas subidas ao ataque. Márcio Araújo, Danilo e Thiago Heleno compuseram um paredão quase intransponível à frente de Deola. Patrik mostrou habilidade e ótima visão de jogo ao deixar Kleber  na cara de Rafael para fazer o gol da vitória.

O gladiador – o Rooney brasileiro, se me permitem a comparação –comprovou a boa fase, movimentando-se constantemente, buscando a bola no meio e partindo para o ataque, na base da velocidade e da força.

Seu companheiro de ataque, Adriano, iniciou a partida demonstrando excessivo nervosismo, assim com Neymar, e deu lugar a Luan. O substituto entrou muito bem. Arrisco até a dizer que a entrada de Luan foi o divisor de águas da partida, dando ao Palmeiras maior poder de articulação e ataque, além da eficiência defensiva, seu ponto mais forte.

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São Paulo 1x0 Mirassol

O São Paulo passou por maus bocados contra o bom Mirassol, na Arena Barueri. Sofreu investidas perigosas e até tomou bola na trave. Em um jogo bastante equilibrado, foi salvo pela genialidade de Lucas, autor do gol de placa que garantiu os três pontos do Tricolor. Será difícil a Mano Menezes não colocar o garoto no time titular da seleção.

Botafogo 0x0 Corinthians

Já o Corinthians fez partida sofrível contra o fraco Botafogo, em Ribeirão Preto. O pobre Liedson passou os 90 minutos de jogo à procura de alguém que lhe servisse a bola em condições de marcar. Em vão. O 0 a 0 foi o resultado mais justo, uma vez que as regras do jogo não preveem a possibilidade de placar negativo.

Por João Quirino

É preciso aproveitar o “momento Bolsonaro”

Para muitos, Jair Bolsonaro é polêmico. Para outros, como o petista Cândido Vacarezza, Bolsonaro é estúpido. Para alguns, o parlamentar é preconceituoso, mas há também – e são muitos – os que o consideram “apenas” sincero em suas convicções.

Seja lá o perfil que se atribua a Bolsonaro, há uma série de temas relevantes que vieram à tona com sua nova “performance”, na famosa entrevista ao CQC. Assim como uma série de medidas que podem ser tomadas, incentivadas por este “momento Bolsonaro”. São elas:


Por João Quirino

sexta-feira, 1 de abril de 2011

É duro ser bonito


Dentinho sempre disse que era lindo. Eu e o resto da torcida do Corinthians, apesar do gostarmos do seu futebol, não fazíamos o mesmo juízo da lata do moleque. Mas, depois da notícia veiculada ontem, talvez tenhamos que rever nossos conceitos.

Foi noticiado que Dentinho – sim, o Bruno Bonfim, atacante do Corinthians – está namorando nada mais, nada menos que Daniele Souza, a Mulher Samambaia. Pois é, as aparências enganam. No caso, suspeito que tenham enganado a ex-paniquete. Bem...

Enfim, apesar de verde, Dentinho, que não é palmeirense – nem são-paulino –, está encarando a Samambaia. E, pasmem, vice-versa!

Pelo jeito, como o Ozzy Osbourne, que entrou no Ginásio do Inter com uma bandeira do Grêmio, a moça é bem louca. Pelas mãos de Dentinho, ainda, será muito bem-vinda ao bando.

Ai,ai,ai, ui, ui!


Por João Quirino