sábado, 19 de março de 2011

Obama está podendo?



Obama e Dilma, hoje, em Brasília.

Barack Obama foi eleito presidente dos EUA após polêmica (para não dizer malfadada) gestão de George W.Bush. O primeiro presidente negro ou, como querem alguns de seus compatriotas, o primeiro presidente afro-americano da história, assumiu sob forte expectativa positiva e aos coros de “sim, nós podemos”. De longe, um slogan mais simpático do que “é a economia, estúpido”, mote de campanha do colega democrata Bill Clinton.

A propósito, passada mais da metade do mandato, vem a pergunta: nós podemos o quê, hein? Fazer um governo menos arrogante que o de Bush filho? Sim, claro, ainda bem. Mas o slogan sugere mais ousadia. Podemos ir além, podemos o impensável, podemos o impossível. Podemos fortalecer a hegemonia (ou estancar o declínio) americano no globo sem apelar às guerras e ações militares invasivas e ilegítimas (preventivas?). Podemos promover reformas sociais à esquerda (entenda-se, esquerda para padrões americanos). Podemos resgatar a pujança da economia do Tio Sam e, a reboque, a economia mundial, competindo com a superemergente China.

De fato, Obama ousou em algumas de suas atitudes, conquistou algumas vitórias, mas também mostrou certo abuso na marquetagem (um dos males das sociedades modernas) e alguns sinais de hesitação.

O presidente cuida de sua imagem a todo instante. É hábil nisso. Não descuida da pose em frente ao púlpito, na Casa Branca, quando faz ameaças veladas ou dá indiretas, ora a Ahmadinejad, ora a Kaddafi ou a quem mais a opinião pública tome como o capeta na Terra. Ou quando profere discursos na Alemanha, no Egito ou onde mais sua equipe de marketing acredite que ajudará na construção do seu perfil de “líder mundial”.

Só que além da fina estampa, da elegância e do charme, há também conteúdo político. Obama tentou promover conquistas marcantes, algumas vezes com sucesso. Agendou a retirada das tropas do Iraque – no Afeganistão, a coisa é mais complicada. Prometeu fechar a prisão de Guantânamo, o que, pelas últimas notícias, deu para trás. Promoveu a histórica reforma do sistema de saúde e colocou na agenda a reforma do sistema financeiro. Enfrenta relativamente bem a crise econômica (em que pesem os efeitos negativos da guerra cambial para nós, emergentes). Tentou resgatar relações com países árabes, abaladas pelo antecessor. Propôs a recolocação da hegemonia americana sob o “paradigma Sputinik”, uma concorrência, especialmente com a China, baseada em inovações tecnológicas constantes – algo bem mais alvissareiro que o paradigma do choque de civilizações e a decorrente estratégia da “guerra ao terror”.

Obama até recebeu um Prêmio Nobel da Paz, muito mais pelas expectativas criadas em torno de seu governo do que propriamente por realizações efetivas. No discurso, para desagrado de muitos, chamou a atenção de que a paz muitas vezes exige a guerra. Talvez fosse uma forma de dizer: sim, sou da paz, mas não se esqueçam que sou o presidente de um país chamado Estados Unidos da América, historicamente consolidado e fortalecido com fundamento nas armas e nas guerras.

Nesses anos de gestão, o atual presidente americano enfrentou/enfrenta dois momentos históricos cruciais: a crise econômica de 2008/9 e a onda contra regimes autocratas no norte da África e no Oriente Médio. São históricos porque podem determinar, finalmente, como a nova ordem mundial irá se estruturar no pós-Guerra Fria e após a frustrada tentativa de Bush em impor uma lógica neoimperialista a partir do medo contra o terrorismo (para alguns, sinônimo de muçulmanos). No entanto, o titubeio de Obama não deixa claro se poderá, de fato, constituir uma opção à proposta dos neocons. Especialmente porque a alternativa, qualquer que seja, passa pela dura admissão de que os EUA, doravante, não podem mais ser o único condutor do mundo, a partir de seus exclusivos interesses. Caso o admita, Obama, sim, ainda poderá avançar muito em mudanças relevantes. Se bobear, os neocons, falcões, Tea Party e Cia. (no sentido de companhia) poderão, por sua vez, dizer: sim, podemos retomar as rédeas da América.

***

Em tempo: atualizando observação feita no post abaixo, foi anunciado que Obama não mais fará o discurso para americano ver na Cinelândia, no Rio, amanhã. O discurso será no Teatro Municipal, para uma platéia seleta. Particularmente, achei bom. Tratando-se de teatro, melhor mesmo que o discurso ocorra no Municipal.

Por João Quirino

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